Responda sem pensar muito: se dinheiro não fosse problema, compraria um carro equipado com todos os acessórios e opcionais disponíveis no mercado – desde o estofado personalizado com tema de “oncinha” (sim, existe) até computadores de bordo e apetrechos especiais para aventuras off-road?
Diante de tantas possibilidades – no mundo automotivo, da gastronomia e por aí vai, como escolher? É mais simples do que parece: propósito. No momento de decidir, pergunte qual o motivo de acrescentar determinado recurso/produto no seu guarda-roupa, em seu carro e, especialmente, em sua vida.
No universo da comunicação digital essa amplitude de possibilidades se repete. E viva o crowdsourcing, as narrativas transmidiáticas, os aplicativos de Facebook e smartphones e as diferentes linguagens de programação que constroem mundos fantásticos afirmam com entusiasmo profissionais do meio.
Na lista dos aplicativos mais baixados em 2011, figuram em posição de destaque itens como o “Larry The Bird” e o “Finger Run Lite”. O primeiro realiza aquele seu sonho antigo de ouvir um “pássaro” repetir o que você fala. Uau, como ser #epicwin na vida sem isso? O outro trata-se de um game e, ao mesmo tempo, equipamento de ginástica para os dedos (relevante para a saúde de sua mão, só que ao contrário). E a lista se estende com outros aplicativos nessa “linha”.
Não se trata de ser avessa aos recursos tecnológicos ou abolir o lado “fun” das ações. Mas cabe nos questionarmos a todo instante se estamos colocando na rua campanhas criativas, que exploram os potenciais do meio online com bom senso ou entrando na onda da firula pela firula, para encher os olhos do cliente e, não raro, o ego dos profissionais das agências.
E tem também a mania de estar em todas as redes sociais até naquelas que nem se sabe ao certo a razão de existir. O atual queridinho Pinterest, por exemplo, pode ser usado por um leque absurdo de segmento, não há dúvida. Mas antes é preciso olhar para o planejamento da marca (o todo), avaliando se colabora com os objetivos, se fala com o target e se é pertinente investir budget e esforços nessa iniciativa. Você pode colocar itens off-road em seu veículo, em alguns modelos fica sensacional, mesmo que você não tenha a menor vocação para andar sequer em uma rua de paralelepípedo, quem dirá numa trilha de rally. Contudo, poder é diferente de dever.
Lógica semelhante se aplica na comunicação. Se o planejamento turbinar projetos apenas para usar o máximo de recursos e parecer moderno e “cool”, desconsiderando o contexto, pode comprometer seriamente o resultado, além de representar um desperdício de energia, tempo e dinheiro. Tendo por norte o conceito de “propósito” é simples ponderar o que é pertinente e o que é over.
É sempre animador trabalhar com marcas que possuem em seu DNA uma linguagem mais descolada e que permitem – pedem, na verdade – uma leveza de formato, possibilitando “sair da caixa”. Mas nem todas nascem para ser Google e acredito que se fosse assim seria boring, pois não teríamos contraponto. Além disso, é absurdamente instigante o desafio de fazer uma marca “tradicional” conquistar engajamento com ações aparentemente “simples”. E mais ou menos como uma mulher sem maquiagem, atrair a atenção dos caras mais cobiçados de uma festa. Tem muito planner “seduzindo milhares de pessoas sem precisar de esforços absurdos com maquiagem”, mesclando projetos por vezes minimalistas – quase franciscanos – e ações pautadas 100% por tecnologia. Alinhe o planejamento com as expectativas do cliente e pratique o desapego dos penduricalhos.
Como sabiamente escreveu Andre Foresti, “num mundo de complexidades, é muito mais legal e efetivo ser simples”. Ao terminar um planejamento, gosto de olhar para o projeto e me perguntar se reflete essa frase. Refaço quantas vezes for preciso até conseguir ver essa “simplicidade fun, aliada a previsão de bons resultados”. Aliás, adotei como máxima para a vida, simples assim!