Bolha, dinheiro fácil, volatilidade, alto risco, falta de regulação e uma revolução maior do que o surgimento da internet. Essas são as palavras que mais ouvimos, quando nos referimos às moedas virtuais.
Dezessete anos após aparecerem as primeiras empresas provedoras de internet nos Estados Unidos, surge algo de impacto ainda não totalmente calculado.
Em 2009, depois da crise financeira dos Estados Unidos, alguém, com o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, fez a primeira transação de bitcoin ao disponibilizar um software na rede. Isso foi possível por meio de uma tecnologia chamada blockchain, que reúne todas as transações, formando uma “corrente de blocos” descentralizada.
Isso significa que a rede funciona de “usuário-para-usuário” (peer-to-peer ou P2P), sem intermediário para essas transações. O Bitcoin, que é uma criptomoeda ou moeda virtual, também chamada de moeda digital, não é regulamentada (ainda) por nenhuma autoridade monetária.
As transações são realizadas por meio de “carteiras digitais” no computador ou celular e utilizam técnicas de criptografia extremamente sofisticadas. Após serem validadas, elas ficam num ”registro contábil”, um tipo de diário digital com o histórico de todas as transações econômicas, que não pode ser alterado.
Essas informações são salvas em blocos e a rede é formada por todos os computadores que estão conectados aos softwares do bitcoin.
Descentralização
O uso de criptografia não é novidade, mas sim a descentralização!
Uma das pessoas que afirmam que o impacto da tecnologia blockchain vai ser maior do que a internet é Christian Aranha, fundador e cientista-chefe da Entropia, doutor em Inteligência Computacional Aplicada, mestre em Estatística e Otimização, e que acompanha o mercado de criptomoedas há vários anos.
“A blockchain garante a legitimidade da transação porque ela fica registrada em um sistema distribuído e com verificação automática e segura. Há um consenso na maneira como funciona, verificado automaticamente e auditado. A tecnologia não permite que os blocos possam ser controlados por uma única pessoa”, explicou Aranha.
Se um hacker quisesse invadir a rede, não adiantaria ele roubar alguns computadores porque o registro está espalhado em todas as máquinas dessa rede.
O objetivo de Satoshi Nakamoto era democratizar o acesso ao sistema financeiro, principalmente na África e na Ásia, onde vários fatores sócio-econômico-políticos impedem o acesso a bancos e créditos para cerca de 2 bilhões de pessoas.
O bitcoin não foi criado para ser um investimento e fazer algumas pessoas lucrarem muito, tanto é que ele tem um limite da moeda digital na rede (21 milhões de unidades). Mas a tecnologia surgida através do bitcoin tem efeitos que vão revolucionar o mundo, dizem vários especialistas.
Mas voltando às criptomoedas, nos últimos quatro anos o número delas triplicou e atualmente há mais de 1.500 disponíveis, de acordo com o Marketcap.
As sete moedas virtuais com maior capitalização de mercado (quando esse artigo foi escrito) são Bitcoin, Ethereum, Ripple, Bitcoin Cash, Litecoin e EOS.
Antes de falarmos sobre a enorme oscilação dessas moedas e a questão da regulação, aqui vão mais informações sobre o mercado de criptomoedas.
Você sabia?
- Para compra e venda de moedas virtuais, você precisa se cadastrar numa exchange, que funciona como uma corretora, e para fazer transações você vai pagar taxas consideráveis. E as exchanges não são reguladas como os bancos, ou seja, não têm mesmo nível de auditoria que há neles. Então, você precisa confiar muito que não vão sumir com o seu dinheiro (mas a verdade é que também não dá para confiar 100% nos bancos, certo?);
- A cada transação você paga uma taxa para a exchange e para os mineradores, que montam a blockchain, validando assim as transações no “diário público” e evitando que moedas já transacionadas sejam reusadas, por exemplo;
- Muitos investidores acabam deixando suas moedas virtuais na exchange e já houve casos de algumas quebrarem ou hackers conseguirem invadir e fazer uma limpa;
- Se você perder a senha da sua carteira (wallet) para transacionar moedas virtuais, nunca mais acessa seus fundos;
- Trata-se de um ativo bem diferente de todos os que conhecemos e ainda é muito volátil: as pessoas entram e saem rede constantemente;
- Com a alta da moeda no final do ano passado, teve muita gente vendendo casa, carro e terreno para comprar bitcoin. Mas vale a mesma recomendação para quem, por exemplo, aplica na Bolsa de Valores. Coloque apenas o dinheiro que você pode perder. A moeda começou esse ano em forte queda e muita gente perdeu muito dinheiro;
- Em dezembro do ano passado, bitcoin estreou no mercado futuro da Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos.
Qual o impacto no marketing digital?
Andre Albrecht Lopes, da área de marketing da Resultados Digitais, acredita que a tecnologia vai dar início a uma nova era no marketing digital. Em um artigo, ele afirma que a tecnologia cria diversas possibilidades de otimização e melhoria do sistema atual de venda e compra de publicidade online.
“As transações podem ser feitas sem a necessidade de um mediador — atualmente os maiores mediadores de compra e venda de mídia são o Google e o Facebook e os dois cobram uma generosa porção do seu investimento, o que acaba inflando os custos de publicidade”.
Albrecht Lopes afirma que blockchain resolve isso com uma estrutura que permite que os anunciantes se conectem diretamente com os provedores de tráfego. E cita empresas como Userfeeds.io, adbank e adChain, que já estão atuando na área de anunciantes e mídia.
A agência Carti de marketing digital, em São Paulo, aceita pagamentos em bitcoin desde o ano passado. Segundo o diretor Eduardo Gasparetto, o dinheiro já é meio que fictício mesmo, pois usamos cada vez mais cartão de crédito. “E as criptomoedas vão mudar nosso futuro, assim como a internet também mudou. Talvez o que a gente enxergue hoje é a base do que vai prosperar no futuro.”
Ele disse também que as transações começaram a ficar muito caras com a valorização do bitcoin, mas há outras moedas virtuais com taxas mais baratas. Eduardo afirmou ainda que bitcoin não vai ser um meio de pagamento padrão, mas é como o ouro, um ativo que se guarda. E haverá altcoins para se tomar um café e pagar. “A plataforma blockchain vai ajudar muito em áreas como cartórios, votação, porque vai ser muito difícil alterar alguma transação no passado, que já foi feita no bloco”.
Sobre a aplicação no mercado de marketing digital, Eduardo afirma que não deve haver mudança com relação à publicidade, já que Facebook e Google são empresas privadas. Mas para transferir dinheiro globalmente, sem pagar imposto, aí sim vai ajudar muito. “Posso contratar um desenvolvedor na China e enviar dinheiro para a conta dele. E também pode ser útil no registro de domínios, dando transparência e evitando que alguém hackeie”, explicou ele.
Regulação, prós e contras
A regulação das criptomoedas divide opiniões e gera debates animados. Segundo Aranha, é claro que os bancos não vão querer ficar de fora e vão se empenhar em criar regras que os incluam. É uma guerra entre o sistema antigo e o novo. O blockchain é muito mais democrático”.
A nº1 do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, afirmou, no mês passado, que a regulação das criptomoedas é “inevitável” e que o FMI está tentando “ativamente impedir que moedas digitais sejam usadas para lavar dinheiro ou financiar o terrorismo”.
No final do ano passado, o presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldgajn, alertou sobre o aumento do interesse e do preço das moedas virtuais, como o bitcoin. “Não hipoteque a sua casa para comprar essas moedas virtuais” (…) É a típica bolha, a típica pirâmide, que em algum momento vai deixar de subir e vai voltar [a baixar]”.
Samy Dana, PhD em Business, professor da FGV e âncora na GloboNews diz que entende o bitcoin como uma bolha. “Ainda não enxergo como uma moeda. A tecnologia é excelente”.
Ele afirmou também que há uma similaridade entre o gráfico do bitcoin, de janeiro de 2017 a fevereiro deste ano (a moeda começou a US$ 1.224, chegou a US$20.079 e caiu a menos de US$ 7 mil), com o de uma bolha.
Christian Aranha discorda. “Não é bolha. Impossível estourar. Fraudes e hackers existem em todo lugar, bitcoin não ficaria de fora. Exhanges vão continuar quebrando, fazem parte do modelo antigo de negócios. Quando forem exchanges blockchain não quebram mais”.
Tomas Fox, formado em Economia e Finanças pela Universitá Commerciale Luigi Bocconi, em Milão (Itália), acredita tanto no futuro das criptomoedas que é um dos fundadores da Lab.Exchange, plataforma gratuita de educação e simulador de trading de criptomoedas. Você usa dinheiro fictício para comprar e vender moedas.
“O mercado não oferecia nenhum tipo de investimentos para quem quisesse brincar. Nosso objetivo é ser uma porta de entrada para as pessoas aprenderem sobre as criptomoedas, mas também para quem já entende e quer se aprofundar no assunto”, contou Fox.
Tanto Christian Aranha quanto Tomas Fox, que compram diferentes moedas virtuais já perderam dinheiro. “Com a queda do bitcoin na virada do ano, acho que ninguém se salvou. Estamos tendo até uma correção saudável do mercado, porque agora a coisa estabilizou. Não estava nada saudável. Até os melhores profissionais do mercado também perdem dinheiro”, ponderou Aranha.
Sandro Ivo, diretor comercial e marketing da DCG (EZ Commerce), afirmou que as moedas virtuais, além de estarem sendo utilizadas como forma de investimento, abrem um novo caminho para empresas que trabalham com e-commerce.
Ele explicou em um artigo que, sem os intermediários, os custos caem e o lojista consegue levar o seu produto por um preço mais agressivo, o que no varejo (sobretudo online) é fator chave de sucesso. Além de abrir novas oportunidades para rotas comerciais globais.
Será que os benefícios são maiores do que os contras? Como você pode ver, os bitcoins, as altcoins e a tecnologia blockchain ainda serão destaque nos principais debates em todo o mundo por um bom tempo. O assunto é extremamente complexo e com vários players envolvidos.
E você? Já formou a sua opinião?
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