“Tudo bem, Fred?.. Então, a gente tava pensando aqui em reunião com o cliente e precisamos de um site em HTML5 para fazer o produto se mexer quando o usuário sobe e desce no scroll.”
Você sabe a diferença efetiva de um HTML4 e um HTML5? Sim ou não, não importa, pois esse não é o tema desse artigo. Parece piada mas não é. Em minhas andanças e reuniões do dia-a-dia tenho visto muita coisa engraçada e muita informação errada, não por maldade das pessoas, mas simplesmente por falta de informação, ou falta de curiosidade de saber se o que estão afirmando tem procedimento ou não.
Longe de mim querer me auto afirmar ou ser o dono da razão, mas o que acontece é que tenho muita dificuldade de achar profissionais bacanas para contratar, pois a maioria se prende em ferramentas e tutoriais práticos. Claro que todo o conhecimento técnico é necessário para se ter a base de um conceito, mas isso não deve ser o guia da sua campanha.
Certa vez em uma reunião o cliente me pediu que gostaria de fazer um “trabalho” de SEO. Criamos a documentação para início dos projetos, analisamos a concorrência, as principais palavras, sugerimos a instalação de um software analítico e tudo aquilo que vocês devem saber melhor que eu. E com os olhos fechados.
No dia da reunião de apresentação, em exatos 45 minutos em 85 slides depois, o cliente não entendeu nada. Isso mesmo, nada. Ele ficou me olhando exatamente como minha mãe me olha quando eu arrumo a caixa de emails dela. Com certeza ele me enxergou como o nerd daquela famosa foto-meme que roda a internet.
Fiquei bem chateado, afinal depois de toda a construção do projeto ele não entendeu nada. Novamente me achei fora do sistema. E antes que eu me jogasse pela janela da sala de reunião, o cliente me salvou com uma simples frase: “Eu só quero que meu superior veja o nosso site quando ele faz a busca por XYZ todo dia pela manhã.” E ainda complementou: “Porque eu não aguento ele me torrando a paciência no almoço todo dia sobre isso.” Fantástico!
Claro que para isso era necessário um projeto de SEO completo, mas o que quero ressaltar é que se desde o início, se eu soubesse a real necessidade do cliente, eu direcionaria a venda do projeto de uma outra maneira, muita mais focada no objetivo, e alcançando a expectativa do cliente.
Vejo essa situação se repetindo todos os dias em briefings que pedem aplicativos de iphone, ou sites em HTML5. Mas a tecnologia não deveria ser um passo a ser dado após ou junto com uma grande ideia ou campanha?
Devemos inverter o modo de pensar. Na verdade esse é um exercício diário e muito exaustivo. O ser humano precisa estar “na onda” ou “na modinha”, e me incluo nisso também. Perdi a conta de quantas vezes já pensei em incluir um QR code na embalagem de um produto para direcionar para uma campanha. O que esqueci de pensar é que será que o público-alvo, que está no dia-a-dia fazendo suas compras apressado, vai parar, sacar seu celular e interagir com a campanha?
E para ocorrer essa mudança o importante é adotar uma metodologia. Seja uma metodologia de pesquisa (target, mercado, consumidores, etc..) ou uma metodologia de projeto (analisar, projetar e executar), quando se divide uma ação em partes, fica muito mais fácil entender cada momento da campanha e assim sugerir a melhor tecnologia.
Todo dia eu trabalho para melhorar o meu modelo de metodologia. E acho que você deveria desenvolver o seu também. Claro baseado em um estudo maior, mas que você possa adaptar ao seu dia-a-dia.
A fagulha que dá o início ao projeto, não é mais o que o cliente quer, é sim a real necessidade. É como se eu escutasse que ele quer um site em HTML5, mas ouvisse que o que ele precisa é um slider de 5 fases aonde ele possa colocar os comerciais de TV (provavelmente igual ao que ele viu em um site gringo ou da concorrência.).
Hoje, eu trabalho com 5 passos, após receber o “start” do cliente:
- Pesquisa: Identificar todos os pontos de contato do cliente/marca.
- (re)Briefing: Apesar do briefing já estar feito, sempre é necessário uma adequação, seja por prazo, investimento ou simplesmente por que “falamos demais” na reunião.
- Projeto: Nessa etapa, reúno todas informações das etapas anteriores e iniciamos o brainstorm de ideias.
- Ação: Aqui entra a tecnologia e os gerentes de projeto, para dar vida a todas as ideias.
- Mensuração: Um fator importantíssimo, pois se a sua ação acabar e você não tiver os dados de resultados, interações e etc.. com certeza nenhum retorno será o suficiente para justificar a ação. Sem mensuração não existe conversão.
No meu caso a tecnologia entra a partir da etapa 3 ou 4, para apoiar as ideias e fazer acontecer o projeto. Sim, muitas vezes a base é uma nova tecnologia ou a presença em uma nova rede social, mas assim é preciso ter isso como um adendo e não o fato principal da sua campanha.
Um livro que tem me aberto muito a mente quanto a isso é “O Zen e a Arte da Escrita”, do escritor de ficção-científica Ray Bradbury . Em seu livro ele traz, em crônicas do dia-a-dia, quais técnicas e exercícios ele utilizou para melhorar o seu modelo de escrita em seus contos e artigos em jornais. O mais bacana é que o leitor se sente parte do processo de criação, mesmo o livro reunindo suas crônicas dos anos 50 e 60.
A melhoria do mercado só depende de nós, assim como também ensinar ao cliente a maneira correta de pedir um novo projeto. Parece loucura, mas tenho clientes que as reuniões de captação de briefing já se tornam grandes e produtivos brainstorms.
Se eu pudesse deixar uma mensagem final, acho que ela seria algo assim:
“Esqueça o HTML5, CSS3, AS3, Ruby ou qualquer outra tecnologia e comece a pensar em qual a real experiência do consumidor/usuário com a sua ação.”
Até a próxima!
Camilo Coutinho